10/10/2018
Olá! No artigo de hoje, eu venho movimentar um pouco as energias do Livro dos Espelhos, tirar a poeira e falar um pouco de um conceito de pode confundir um pouco o jogador brasileiro de Mago: A Ascensão que decide fazer uso de paradigmas afro-brasileiros em suas mesas.
Mas logo logo você vai ver aqui outros artigos novos, ok? ;)
Mas bora! Vamos falar de axé!
Ué, mas às̩e̩ não é quintessência? Bem, sim e não. A resposta é beeem mais longa, complexa e, ao mesmo tempo, simples, do que se pode imaginar. Mas, para compreendê-la, devemos antes nos despir de todos os conceitos ocidentais e judaico-cristãos de visão de mudo, afinal, estamos falando de modelos paradigmáticos, logo, devem ser compreendidos per se, dentro de sua própria lógica e visão de mundo.
Já deixo adiantado que essa é uma visão incompleta. Afinal, temos dezenas de culto de origem africana no Brasil, dos mais conhecidos Candomblé e Umbanda a outros, como Quimbanda, Tambor da Mata, Cultos de Nação, e dentro mesmo do Candomblé e da Umbanda, temos diversas divisões e subdivisões, afinal, não estamos falando de uma crença que se originou em um país, mas em um continente imenso, que é o continente africano, e que se misturou com crenças e cultos de um território imenso, e teve contato principalmente com centenas de tribos nativas, certo?
Além do mais, por mais que seja embasado no conhecimento oral que adquiri, bem como de leituras que fiz, ainda assim, este artigo pende mais para um paradigma umbandista (e para quem entende disso, não estamos falando da Umbanda Branca, ok?).
Lembramos que estamos voltando este artigo para o jogo Mago: A Ascensão, ok? Não pretendo, aqui, falar especificamente do mundo real. Para isso, procure nossos mais velhos.
Antes de mais nada, é preciso pensar no que são os povos de origem africana no Brasil. São povos que foram barbarizados, sequestrados e trazidos para um mundo que era por eles desconhecidos. Tentou-se alijá-los de suas crenças, desestruturou-se seu modo de vida e sua organização familiar e comunitária, misturando-os e desumanizando-os.
A despeito disso, a história dos povos africanos no Brasil é uma história de resistência. De tentativa de reagregação, de manutenção e reconstrução de modos de ver o mundo, de comer, de viver, de pensar, de se vestir, que marcassem sua resistência e reconstruíssem sua visão de mundo e de viver independente da tentativa de fragmentação e destruição que se fez de sua vida, seguindo a esteira tecnocrática da tentativa de se unificar toda a humanidade sob um único Consenso.
Assim, às̩e̩ é um termo que possui muitos significados. Ou seja, é uma palavra polissêmica. Grosseiramente, pode ser traduzida como energia, poder, força, vibração, mas também é bem mais do que isso.
A seguir, exploraremos o significado de às̩e̩ a partir de 12 significados que foram identificadas até agora, com base no seu uso no cotidiano e que podem ajudar um pouco a elucidar essa questão para personagens tanto de jogador quanto do Narrador.
Para melhor compreensão, o artigo foi dividido em quatro partes, e hoje você lê a primeira delas.
Como fé, retomamos o que foi dito na introdução. Dentro desta acepção, estamos falando de um conjunto, uma coletividade de povos de origem africana que se agruparam no Brasil. Assim, temos diversas nações dentro de uma mesma denominação, exercendo e ao mesmo tempo reconstruindo seu modo de vida. Ou seja, não se trata do Paradigma de um único povo, mas de um conjunto de povos que se reuniu no mesmo território, e ainda assim, este território era amplo. Aqui, por condições históricas, tiveram contato com outros povos étnicos, e então, dentro de alguns segmentos, isso pode sofrer variações, a depender da proximidade com povos indígenas.
Portanto, o significado maior de às̩e̩ é fé, ou seja, o paradigma, o modo de viver, de pensar, de se relacionar, vestir, alimentar, tudo aquilo que constitui a vida de povos brasileiros que se originaram a partir da diáspora africana.
Esta é a visão rasa mais comum que um jogador de Mago pode ter sobre o que é o às̩e̩. Não errada, mas simplista, uma vez que o conceito de às̩e̩ vai além disso, a depender do uso.
Mas sim, às̩e̩ pode ser também a quintessência em seu estado puro, manipulável magisticamente. O importante é frisar que não é só isso.
Às̩e̩ pode ser o próprio foco do Desperto. Pode ser a palavra mágika usada para que um intento buscado através de determinada ação se faça, bem como podem ser os objetos, cânticos de danças de Òrìṣà e entidades que se descem ao terreiro para comungar com seus filhos e filhas.
Nesta acepção, às̩e̩ pode ser uma palavra mágika, dita no final de uma reza, um cântico, uma oração, uma expressão de desejo, equivalente a Amém, Assim Seja, MAKTUB, palavras sagradas que selam e marcam aquela fala como um desejo de fazer, de que se cumpra, que se faça, dentro de um contexto de fé (ou seja, dentro do paradigma em questão).
Pode também significar os objetos sagrados usados para que uma intenção se cumpra, ou seja, que uma vontade/desejo alcance a existência, venha a ser.
Próximo Artigo: O que é Às̩e̩ – Parte 2 >>
Fonte: Cultura oral
Imagens: James C. Lewis, Tenda de Umbanda Filhos de Pai Peri
Agradecimentos: Grupo Mage: The Ascension – Beyond Ascension #EleNao do Facebook, que levantou o assunto